Venenos do bem
Você sabia que a partir de determinados compostos presentes nos venenos de aranhas, cobras e escorpiões é possível desenvolver medicamentos contra doenças como a hipertensão arterial? A pesquisadora Márcia Borges e sua equipe, do Serviço de Proteômica e Aracnídeos (Spar) da Funed, atuam nesta área de pesquisa, em que analisam a possibilidade de utilização de componentes dos venenos animais para obter produtos para a saúde humana.
A obtenção de um produto a partir dos “venenos do bem” é resultado de um trabalho de pesquisa em que a Funed, juntamente com pesquisadores de outras instituições, atua no isolamento e na caracterização bioquímica, estrutural e funcional de diversos componentes de venenos que poderão servir como modelo para desenvolver novos medicamentos. Um exemplo é o caso da pesquisa com o veneno da aranha amadeira, uma aranha de importância médica, responsável pelo maior número de casos de acidentes no Brasil. No laboratório do Spar foram realizados estudos que mostraram a existência de um composto do veneno de aranha armadeira que poderia ser útil para desenvolver um tratamento para a disfunção erétil. A pesquisa foi feita conjuntamente por cientistas da Funed em colaboração com a equipe da pesquisadora Maria Elena de Lima , da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, o tratamento proposto está passando pela etapa de validação de resultados e poderá ser uma alternativa terapêutica para a disfunção erétil.
Além disso, outras pesquisas vêm sendo realizadas com venenos de outros tipos de aranhas, mesmo as que não são de importância médica, pois esses animais também possuem veneno e seus componentes podem ser interessantes para desenvolver medicamentos ou outros produtos.
O desenvolvimento de medicamentos a partir de venenos animais não é recente. Na antiguidade, curandeiros, feiticeiros, médicos e cientistas buscavam nos venenos remédios para as doenças por acreditarem que “o mal com o mal se cura” – equivalente ao aforisma médico “similia similibus curantur”. Um exemplo de medicamento brasileiro que teve sua origem a partir de pesquisas com o veneno de uma cobra é o Captopril. Ele foi descoberto em 1960 e, atualmente, é o remédio mais utilizado para tratar a hipertensão arterial.
“Existe um animal marinho, que parece um caramujo, chamado Conus. Ele tem conchas muito bonitas, mas é muito venenoso. Do veneno dele foi isolado uma substância que atualmente vem sendo usada como remédio para o tratamento da dor e que pode ser um substituto para a morfina em doenças crônicas. Além disso, outra pesquisa que está em andamento com o veneno deste mesmo caramujo, mostrou uma substância que poderá ser utilizada como remédio para diabetes”, afirma a pesquisadora.
Para saber mais informações sobre os “venenos do bem” veja aqui o material didático feito pela bic-júnior Juliana Rodrigues Moraes, sob orientação da pesquisadora Márcia Borges.
Texto: Bic-Jr Laura Romano com supervisão da pesquisadora Márcia Borges e sua equipe.
Edit em 10/10/2019:
Em parceria com a Universidade Nacional de São Marcos (Peru), e a Universidade de Münster (Alemanha), os pesquisadores do Serviço de Bioquímica de Proteínas de Venenos Animais da Funed identificaram o potencial terapêuticos de proteínas de venenos de serpentes, como afirma o coordenador do laboratório e pesquisador Eladio Sanchez, “a partir de derivados do veneno de serpentes, como a surucucu (Lachersis) e Bothrops, foram identificados e purificados compostos de interesse científico e tecnológico, sendo determinadas as principais propriedade moleculares e biológicas em modelos in vitro e in vivo, evidenciando o potencial terapêutico dessas moléculas para o tratamento de doenças cardiovasculares”.
Assista ao vídeo sobre o trabalho do Laboratório.
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Publicado em: 27 de setembro de 2019 16:03
Última atualização: 05 de outubro de 2022 18:17