Pesquisa com veneno da aranha teve início na Funed
Recentemente, vários veículos da imprensa noticiaram avanços nos estudos envolvendo uma toxina de uma espécie de aranha, a Phoneutria nigriventer. Isso porque essas pesquisas poderão resultar no desenvolvimento de um fármaco para tratar a impotência sexual. O que muitos não sabem é que tudo começou há mais de 30 anos na própria Fundação Ezequiel Dias (Funed), onde o professor Carlos Ribeiro Diniz liderava uma equipe de pesquisadores que estudava o veneno da aranha armadeira.
O professor Diniz, que também atuava como médico, observava em seu consultório uma característica comum em homens picados por aranhas, que era uma ereção involuntária e dolorosa, conhecida como priapismo. Ele então levou esse fato para a bancada do laboratório e, juntamente com sua equipe, passou a isolar os componentes do veneno, a fim de identificar qual deles era responsável por essa reação. Por meio de pesquisas, foi então isolada e identificada a molécula que serviu como modelo para o desenvolvimento de um possível remédio para disfunção erétil.
A pesquisadora Márcia Borges, do Serviço de Proteômica e Aracnídeos (Spar), explica que a Funed faz hoje a extração do veneno da aranha, a purificação dos componentes por cromatografia líquida e a identificação de cada um desses componentes, que são então repassados para os pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para que eles possam fazer a caracterização farmacológica. “Além dessa toxina, ainda são obtidas na Funed outras que também poderão servir de modelo para o desenvolvimento de medicamentos para a dor e o Alzheimer”, destaca a pesquisadora.
Patente
Após os resultados com a toxina da Phoneutria nigriventer, considerados bastante promissores, o peptídeo foi patenteado pela UFMG, sendo que a Funed participa na detenção da patente e da tecnologia/conhecimento. Nesse processo de transferência tecnológica, a Biozeus, empresa de biotecnologia brasileira responsável pela conexão entre a pesquisa e a indústria farmacêutica, conheceu o estudo e manifestou interesse pela patente.
Foi então feita a transferência da patente do peptídeo para a empresa, que batizou o composto de BZ371. Os estudos clínicos, que se dividem em três fases, antes de chegar ao registro do fármaco, já estão na fase 2, em que será testado o potencial do remédio, ao comparar o efeito em indivíduos saudáveis com o gerado nas pessoas prostatectomizadas, ou seja, que fizeram cirurgia para retirada da próstata, intervenção que, em grande maioria, leva à disfunção erétil.
Ainda na fase 1 do estudo, ficou também atestada a segurança da aplicação tópica do BZ371A em mulheres. Esse dado abre a possibilidade para o desenvolvimento, em um futuro próximo, de uma medicação para o tratamento da disfunção sexual feminina, tendo em vista o aumento do fluxo sanguíneo local e da vascularização.
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Publicado em: 27 de setembro de 2023 17:32
Última atualização: 28 de setembro de 2023 08:33